Pedro Almodóvar costuma trabalhar os dilemas das mulheres em suas obras. Em Julieta ele volta a trabalhar com os dramas e conflitos vividos por uma esposa e mãe traumatizada.
O filme inicia com tecidos vermelhos se movendo, o que deixa uma dúvida ao expectador quanto ao que se referem. Assim que a tela “abre”, podemos ver que são tecidos das vestes de uma mulher que embrulha suas coisas para uma mudança. Entre os objetos, aparece uma escultura que tem apelo sentimental à personagem Julieta no filme.
A obra trata da vida de Julieta, uma bela mulher, professora de literatura, considerada moderna para a década de 80 – quando o filme volta no tempo para que possamos entender o que se passou na trama contado pela própria Julieta, ao escrever a sua história no filme.
Julieta, jovem, conhece Xoan em uma viagem de trem a caminho de uma cidade diferente para lecionar em outro colégio. Durante a viagem, acontece um suicídio, do qual Julieta sente-se culpada. A partir daí há uma maior empatia com Xoan, pescador, com quem tem um romance no trem. Xoan é casado e sua esposa está em coma há alguns anos. Após algum tempo, eles se reencontram, Xoan está viúvo e Julieta grávida dele, fruto daquela viagem. Antía é a única filha do casal. E é entre Julieta e Antía que se desenrola o drama do filme.
Em uma discussão entre Julieta e Xoan, ele sai para pescar quando há uma tormenta e vem a falecer. Julieta, viúva e traumatizada, conta com a ajuda de sua filha Antía para recuperar-se de sua depressão. A partir daí a trama se desenvolve com foco na relação entre mãe e filha.
O drama de Julieta com problemas com sua filha são retomados a partir do momento em que ela, por acaso, encontra uma antiga amiga de Antía na rua, que dispara o gatilho de seu sofrimento.
O final – que não vou contar, vai ver o filme! – é interessante, pois fiquei com a sensação de que poderia ter terminado antes.
A obra é repleta de psicologia em seus personagens. E trata de problemas das mulheres que ainda são identificados hoje.
O que podemos ver no filme além da trama?
– O filme trata muito sobre EMPATIA. Isso pode ser visto no modo como Julieta vê sua mãe passando por problemas que ela já viu e viveu. Assim como a sua filha consegue se colocar no lugar dela em um momento.
– A mulher moderna vista como uma abominação na sociedade. Em alguns momentos do filme, uma mulher que se posiciona, que trabalha ou que se veste de tal forma, é mal vista e mal compreendida.
– A mulher que trabalha. Em outro momento, Julieta quer voltar a trabalhar após ter criado sua filha, mas a cuidadora da casa em que ela vive com Xoan lhe diz que “vai acontecer o que sempre acontece” e que o lugar da mulher é em casa cuidando da família. Como se ela quisesse justificar traições dos homens.
– A relação entre mãe e filho. Os filhos crescem… Esse filme mostra bem o sentimento que muitas mães têm com os filhos em pensar que eles sempre vão ficar juntos. E a visão dos filhos de que os pais não querem que eles se desenvolvam. Ambas partes precisam entender. Essa é aquela máxima: “Só entende quem tem filhos “.
– Gatilhos mentais são muito importantes. Como o autoconhecimento nos faz melhores e com a alma mais rica. Julieta desistiu de viver uma vida nova e diferente porque algo ativou o gatilho daquela emoção que ela sentia em relação a filha.
– Uma boa conversa tem seu valor. A maioria das desavenças poderiam ser resolvidas com uma conversa. Ficar escondendo coisas e falando meias verdades não pode terminar bem… Veja se a história teria o mesmo desfecho se Almodóvar preferisse que Julieta contasse a verdade a Antía a respeito do motivo que o levou a ir pescar com a tormenta. Mas convenhamos, a escolha foi dele. Todas as escolhas foram dele.
SERVIÇO:
Julieta – Universal
Estréia: 07/07/2016
Direção: Almodóvar
Sinopse: O filme é protagonizado pelas atrizes Adriana Ugarte e Emma Suárez – que interpretam a personagem Julieta em duas fases da vida. Envolta em temas densos como destino e complexo de culpa, a produção retrata a história de uma mãe que vive uma incerteza depois de ter sido abandonada, sem explicações, pela filha. O roteiro ainda destaca o mistério que nos leva a abandonar quem amamos e a deletar pessoas de nossas vidas como se elas não tivessem deixado alguma lembrança.
Essas foram as minhas visões sobre o que podemos aprender com o filme Julieta, de Pedro Almodóvar, que estreou nesta quinta-feira aqui em Porto Alegre, o qual eu tive a oportunidade de assistir antes para analisar para vocês!
Vale muito a pena. É daqueles filmes que a gente sai do cinema pensando nele ainda…
Um Beijo!
A Economista de Batom.